Roberto Menna Barreto, Summus Editorial, 2006
Investir contra a publicidade foi sempre a tarefa preferida de críticos e ensaístas que, como Millôr Fernandes, a designam como promotora da mentira. Atribuem ao ramo termos que em outros contextos seriam perfeitamente cabíveis – capitalista, vendida, onírica, fictícia, etc. Estes localizam-se num dos gumes da opinião acerca do ramo publicitário, antepondo-se àqueles que tratam do assunto de maneira fascinante, como se a profissão fosse, num futuro longínquo, a única exercida pelos seres humanos. Abordam-na, não obstante, sem consistência, estipulando-a como sinônimo de festas, eventos e locais povoados pelas parcelas mais abastadas da sociedade. Roberto Menna Barreto, não inclinando a nenhum dos dois lados, procura se manter sobre a ponta dessa faca, analisando os sustentáculos sobre os quais se apóia o portentoso edifício propagandístico.
Logo no início do livro, o autor esboça uma situação imaginária, onde anuncia o tema central da obra, utilizando-se do ethos publicitário para alcançar seu objetivo. Tem-se a impressão de que, mesmo a despeito do título, as linhas que sucederão nas páginas seguintes preconizarão a análise da profissão em seu aspecto mais recente, recorrendo à história somente quando lhe for conveniente. Mas não é isso que acontece. Antes, porém, de procurar subsídios no passado, Barreto procura desfazer as imagens clássicas que sociólogos, antropólogos e pessoas que, como o próprio autor diz, “estão fora do métier”, fazem da propaganda: que se trata de um mecenato velado; que o criativo, assim como um artista, terá o tempo que quiser para pensar numa idéia brilhante; que sempre haverá a desconfiança perante os profissionais da área, ad infinitum.
Finda essa descontrução, a história da propaganda comercial passa a ser esboçada, tomando o resto de todo livro, alternando entre uma ou outra ponderação do autor a respeito do tema. De fato, por vezes há a ligeira impressão de se estar lendo um livro de História, daqueles chatíssimos, cujos autores nos brindam com termos infindáveis, cobrados posteriormente em testes de feitura humanamente impossível. O trajeto histórico vai desde o faraó Ramsés, que ordenava aos escribas que forjassem os acontecimentos, destacando-o como eterno vencedor; passa pelo lugar-comum que se tornou o nazismo e sua propaganda que exacerbava o caráter nacionalista do partido hitleriano; terminando, em fim, na pós-modernidade – sendo que nem ela escapa das menções feitas ao passado.
Doravante, o autor defende que, boa ou má, a publicidade se aproveita da pré-disposição de que todos nós temos em acreditar, mostrando quão arraigados em nosso inconsciente estão os tentáculos e extensões da prática publicitária. Barreto, assim, explicita que mais que “operosas células do Partido Consumista”, as agências de propaganda contribuem na formação do caráter social, pondo-as no status de fábricas de cultura. Essa opinião faz constar-se em diversos trechos do livro, todos regados à prolixidade em demasia, fazendo com que a obra sirva-se, logo, como um estudo mais profundo da área, destinado a teóricos, historiadores, filósofos, ou seja, todos que não o publicitário.
É claro que parece absurdo sentir-se incomodado com a quantidade vultosa de referências à história num livro que traz grafado no título a própria palavra, entretanto, mesmo com erudição e estilística bem elaborada, o autor passa por pedante até mesmo quando faz constatar a opinião alheia para endossar o que defende. Menna Barreto vale-se, não obstante, de esquemas, como os de Fromm, e asserções puramente humanísticas, “é função do caráter social modelar e canalizar a energia humana dentro de determinada sociedade, com o objetivo de manter o funcionamento ininterrupto dessa sociedade”. Chato e exaustivo, o livro começa animado mas termina respirando por aparelhos. Parece que a famigerada criatividade, abordada em outros livros do autor, Criatividade em propaganda e Criatividade no trabalho e na vida, foi o que faltou para tornar a obra, no mínimo, tragável.